quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O tempo Voa!

Vivemos a um tal ritmo que mal nos apercebemos, já passou um dia, uma semana, um mês, um ano....O tempo não chega para tudo, às vezes falta tempo para o essencial!
Mas também acontece o inverso. Ás vezes o tempo não passa à velocidade que queremos e até temos a sensação que o tempo pára! Em certas situações instala-se a frustração...o impasse...a desmotivação e outras coisas mais, que são inimigos do entusiasmo e da boa disposição.
Prefiro o tempo a voar!
JM

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

....Ouvidos e Ouvintes...

Cada caso é um caso! Sem querer generalizar, certo é que, uns mais que outros, conforme a sua maneira de ser e estar na vida, em casa, no trabalho ou em qualquer lugar, ao falarmos somos ouvidos e somos ouvintes. Contamos e/ou ouvimos histórias breves ou longas, consoante o tempo que temos para dedicar-lhe e/ou tendo em atenção o interesse de quem ouve.
Por vezes, e em certos contextos, não querendo ser indelicados, somos "obrigados" a ouvir histórias intermináveis e repetitivas que apenas servem para aliviar quem as conta!
Hoje sinto-me cansada por ter ouvido tanto, embora tenha consciência que fui útil a quem precisou tanto de falar!
Para além de mera ouvinte tentei ser ouvinte activa!
Destaco dois momentos em que fui "companheira de viagens" cujos itinerários foram da Ericeira a França, passando por Barcelona e do Cacém até à Guiné, ída e volta. A primeira uma história alucinante no mundo da droga incluindo o seu tratamento e uma grande lição de vida; a segunda, doença também misturada com pobreza económica e cultural e muita expectativa!...
Sonhar é sempre possível!
A realidade é o que é...com alguns escapes, que por vezes se tornam círculos viciosos!...
Ouvidos às vezes compreendidos, ouvintes às vezes capaz de alertar para que os itinerários futuros a traçar sejam outros bem diferentes!
JM

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

...Acreditar...Lutar...

A glória do mundo é transitória e não é ela que nos dá a dimensão da nossa vida - mas a escolha que fazemos de seguir a nossa lenda pessoal, acreditar nas nossas utopias e lutar pelos nossos sonhos. (...)
Cada pessoa pode ter duas atitudes: construir ou plantar.
Os construtores um dia terminam aquilo que andaram a fazer e ficam limitados pelas suas próprias paredes. Os que plantam sofrem com as tempestades, as estações, mas o jardim nunca pára de crescer.

Paulo Coelho, Brida

domingo, 27 de janeiro de 2008

Pequenas coisas...

"Pequenas coisas" - foi assim hoje uma despedida de um curto
encontro entre amigos!
Pois é, mas o importante não é o tamanho nem a duração das coisas, é o conteúdo e a intenção.
Como alguém disse " algumas coisas pequenas podem estar cheias de amor e outras maiores podem estar vazias" e ainda "não importa quanto tempo vives, o que importa é quanto desfrutas".
Assim, acho que trocámos coisas com significado e aproveitámos bem o tempo que passámos juntos nesta parte de tarde de Domingo!
JM

Sementes


"Semear para colher"...
É verdade no campo e na cidade!
No campo as sementeiras são diversas
assim com os frutos e os produtos
que variam de época para época.
Na cidade também há quem queira semear
e quem esteja impedido de o fazer:
lembro as hortas de africanos
ao longo da IC19, tendo muitas
sido substituídas por jardins....
Os jardins são bonitos de ver,
mas não alimentam famílias!
Ninguém pensou certamente
nos prejuízos causados a esta gente
quer em termos económicos ,
quer em termos culturais!
Sensibilidade precisa-se,
sementes de humanismo
e bom senso parece
que estão a perder-se!
JM

sábado, 26 de janeiro de 2008

Conselho

Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
Eugénio de Andrade

Sabores

Distingo o café,como o sabor
dos sabores!
Também pelo seu aroma e côr!
Tornou-se um hábito
a que é difícil resistir;
para muitos é estimulante,
para mim é revigorante,
faz-me sentir melhor!
Só ou com alguém
é um prazer,
mesmo pagando a dobrar
quando tomado à beira-mar!
É que os olhos também bebem...
e esse é o preço a não lamentar!
Pelo contrário, deve repetir-se
muitas vezes, para alimentar sorrisos,
encontros, connosco e com os outros!!

JM

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Sobrevivente...

No limite do sofrimento,
quando à sua volta a morte acontecia
sucessivamente
e podendo ser a próxima vítima,
com medo de adormecer
por poder não acordar,
manteve a força e muita energia!
Franzina, sentia-se impotente
mas não perdeu a fé,
e resistente
enfrentou a dôr
como uma montanha!
Alguns anos passaram
e agora sem nada temer
tem outra perspectiva da vida:
"viver cada momento como se fosse o último",
e sem deixar de pensar nos outros,
nunca mais abdicar de si própria!

Licões de vida como esta, fazem-nos reflectir....
JM

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Morrer....Viver!

Morre lentamente quem não viaja,
quem não ouve música,
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem evita uma paixão
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, corações aos tropeços, sentimentos.
(....)
Morre lentamente quem não arrisca
o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias
queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
desistindo de umprojecto antes de iniciá-lo.
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos então!

Pablo Neruda

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Folhas....Troncos

"Folhas Caídas" foram escritas por Almeida Garrett, li-as há muitos anos e recomendo a leitura.
Mas não é dessas folhas que quero falar aqui e agora.
Equanto folhas de árvores, há muito que dizer delas, quando estão lá em cima e quando caiem,dão-nos sombra e depois são pisadas!
...são roupagem, são abrigo onde as aves se aninham...
purificam o ar que respiramos em qualquer estação; caiem lentamente no outono; dão trabalho a muita gente: Jardineiros, conservadores de parques e ruas; madeireiros, industriais e comerciantes do papel! E infelizmente, sobretudo no verão ocupam muitos bombeiros pelo elevado número de incêndios que deflagram e destróiem muitas folhas, muitos troncos, muitas árvores!
Os troncos começam por ser rebentos... tornam-se suporte e dão forma ás arvores!
Folhas secas caídas e um pequeno tronco têm sido nos últimos dias matéria-prima para trabalhos de educação visual e de desenho das minhas filhas e muitos outros estudantes.
O que é admirável e é condigno com a natureza.
Admiro particularmente o Plátano e a forma das suas folhas, lembro-me sempre do enorme e emblemático plátano que existe em Portalegre, que já conheci grande, sendo eu criança!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Cicatrizes

Cicatrizes são marcas de feridas
feridas que sararam
com o tempo, consoante
a profundidade e as situações...
Algumas cicatrizes mal se notam,
outras são mesmo invisíveis,
sentem-se por vezes,
e tansporto outras tão sensíveis
como o orgulho de ser mãe!

Dedico estas palavras a uma grande amiga, hoje no seu dia de aniversário, ela que ajudou a nascer as minhas duas filhas, dá alegria a tanta gente e também é uma mãe orgulhosa.
JM

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

...Flores...


A imagem foi-me enviada por e-mail pela amiga Teresa, que achei uma ternura e de certa forma pode ilustrar o breve apontamento que se segue.

Rodeado de verde, labiríntico, multicultural, conotado com marginalidade e delinquência juvenil, apelidado por alguns moradores como "bairro dos índios", subindo pelas escadas de um prédio vandalizado e totalmente descuidado em termos de limpeza, surpeendi-me pela positiva ao chegar ao último piso. Quando a porta se abriu, foi como se no cimo de um monte de estrume, ou no meio de um lixeira, tivesse encontrado um canteiro de flores!

Estas situações fazem-nos reflectir! De facto há muitas coisas e/ou situações que não podem escolher-se, neste caso concreto, falo dos vizinhos num bairro de realojamento social; muitas pessoas sentem-se bem onde estão, muitas outras gostariam de poder escolher outros vizinhos e outro lugar para viver!

JM









domingo, 20 de janeiro de 2008

Sorriso de criança

Sorriso de criança, fresco, puro
Continua assim
És desta vida oásis bem seguro
Que encontrei para mim.

Ou tinir de cristal, cantar da fonte
Talvez... voz do mar,
Um belo e calmo pôr do sol no horizonte
Ou um raio de luar.

Tudo quis igualar ao teu sorriso
Mas não consegui.
Talvez exista, só no paraíso,
O eco em ti.

Ofélia Bomba, A Porta de Reixa - Poemas

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Metamorfose

Repara: - a imóvel crisálida
Já se agitou, inquieta,
Cedo, rasgando a mortalha,
Ressurgirá borboleta.

Que misteriosa influência
A metamorfose opera!
Um raio de sol, um sopro
Ao passar, a vida gera.

Assim minha alma, inda ontem
crisálida entorpecida,
Já hoje treme, e amanhã
Voará cheia de vida.

Tu olhaste - e do letargo
Mago influxo me desperta:
Surjo ao amor, surjo à vida
A luz de uma aurora incerta.

Júlio Dinis, Poesias

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Retrocesso

De sonho a pesadelo!...
Um sonho que durou pouco
Um pesadelo que parecia interminável...
Sonho realizado parcialmente
e apenas temporariamente,
com muitos sacrifícios...
Talvez durasse ainda
se tivesse prestado
a esperada vassalagem,
"sem tugir nem mugir"!
Os diálogos iniciais
foram substituídos
por monólogos
e demasiados silêncios!
Utilizando a linguagem
tauromáquica da região:
um dia o barrete saltou-me
e na arena ribatejana ficou
a fera, temperamental,
indomável e caprichosa!
A alternativa foi o retorno à capital...
recordarei sempre pessoas,
que entretanto conheci
e o local, que foi mero ideal para viver!
JM

Contradições

São tantos os condicionalismos em que nos movemos no nosso dia a dia dito "normal", que dou por mim a reflectir no pleno sentido contido num dos livros de Daniel Sampaio "Vivemos livres numa prisão"! Esta prisão a que se refere não tem grades de ferro, mas tem outras, muitas vezes, não menos difíceis de transpôr!
Diariamente estamos a testar e a ultrapassar os nossos limites e, às tantas, até temos dificuldade em dar sentido ao que fazemos!
Sabemos que para cumprirmos a nossa missão profissional e nos habilitarmos a "prémios tabelados", quase inacessíveis ao cidadão comum, temos de nos desdobrar, ainda que, por vezes, tenhamos dificuldade em nos encontrar!
Com tantos "códigos cozinhados", cujos principais ingredientes parecem ser alianças, interesses e/ou cumplicidades, que não olham a meios para atingir fins ... neste caos legislativo actual, quem sabe se para quem não conseguir que as estatísticas libertem as prisões em tempo recorde, alguns de nós em "liberdade", não ficamos verdadeiros reféns da injustiça e da insegurança que já se vivem!!!!!!
E nessa medida não será exagerado afirmar que muitos indivíduos privados da liberdade, embora estando em prisões de facto, não estão assim tão presos quanto outros se sentem nesta prisão global de grades invisíveis, mas que sufocam lentamente.
Parte significativa da população portuguesa vive mal, com as despesas a absorverem e a ultrapassarem os rendimentos; muitas famílias vivem de contas vencimentos e de créditos bancários; outras de rendimentos de inserção social pagos pela segurança social e subsídios de desemprego (a serem suportados pelos contribuintes) e outras famílias há ainda que parecem sobreviver apenas por obra e graça do espírito santo!!!
Não é esta a sociedade que queremos,mas é a que temos. Que fazer?! Não será concerteza sacrificar mais a classe média...
JM

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

...Loucura...

O guerreiro da luz olha a vida com doçura e firmeza.
Está diante de um mistério, cuja resposta encontrará um dia.
Volta e meia, diz para si mesmo: "Mas esta vida parece uma loucura".
Ele tem razão. Entregue ao milagre do quotidiano, apercebe-se de que nem sempre é capaz de prever as consequências dos seus actos. Às vezes, age sem saber que está a agir, salva sem saber que está a salvar, sofre sem saber porque está triste.
Sim, esta vida é uma loucura.
Mas a sabedoria do guerreiro da luz consiste
em escolher bem a sua loucura.

Paulo Coelho, Manual do Guerreiro da Luz

Amigos são espelhos...

Amigos são espelhos falantes,
dão-nos a nossa imagem reflectida
vendo para além dela!
Alguns são raros, sensíveis,
de uma generosidade inesgotável,
direi mesmo que são insubstituíveis!
Alguns parecendo casulos
transformam-se em
lindas borboletas,
que admiro e colecciono!
Não concebo a vida sem a amizade.
Li algures que "a amizade não se vende
não se troca, dá-se", acrescento:
não se agradece,
merece-se!
JM

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Para ti amiga

... olhas nos olhos
que não negas
o sorriso a palavra forte e justa
... para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para as margens do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?

José Afonso, Utopia

Por antecipação, publico hoje para desejar
um feliz dia de aniversário amanhã,
a uma grande amiga, uma boa pessoa,
profissional empenhada e dedicada,
com quem certamente não vou poder estar!
Que nunca deixes de sorrir!
Os parabéns só no próprio dia e em voz, ao menos isso!
JM

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Falta de tempo?!

Ocupados com os nossos problemas, consumidos pelo dia a dia de trabalho, absorvente, desgastante, centrado nos outros, muitas vezes acabamos por nos esquecer, arranjar desculpas ou adiar pequenos gestos perante outros, que também são nossos ou são parte de nós!
Alguns estão distantes, outros muito próximos!
Ás vezes reagem sentidos, chamam a atenção ou simplesmente ficam calados, tentando compreender, deduzindo e/ou tirando as suas conclusões...
Mera falta de tempo?! Falta de ...bom senso...solidariedade...ou incapacidade...desinteresse...indiferença...desleixo?!
Dependerá das pessoas e das situações, nalguns casos poderá ser por falta de coragem, para lidar com uma doença grave por exemplo.
E quando finalmente arranjamos essa coragem, ficamos surpreendidos com a força que encontramos!
Pode estar em causa uma perspectiva de agarrar todo o tempo para que ele não falte!
JM

Green God

Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.

Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia, o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.

Eugénio de Andrade, Poemas

domingo, 13 de janeiro de 2008

Queria...


Queria ser vento no Guincho,
ter liberdade em todas as direções
voar bem alto como gaivota,
poder escolher as estações
como as andorinhas,
e também como elas
trabalhar o barro, a argila
ou mesmo a lama!
Queria ser frágil e resistente,
e poder conviver
com as algas marinhas,
ter muitos braços e mãos
como o polvo,
mas conseguir sobreviver
à pesca submarina,
e não encontrar certos humanos!
Queria ser duna salpicada pelo mar,
ter a beleza
e a pureza
das flores silvestres,
as cores e o perfume
dos lírios do campo,
a leveza
dos nenúfares
e assim flutuar,
e olhar o sol sem limites!
Sem me esquecer da terra,
queria ainda voar
nas asas de uma pomba branca
e poder anunciar
ao mundo o fim da guerra!
JM

sábado, 12 de janeiro de 2008

Relíquias


São mesmo relíquias do passado,
estes ferros de engomar,
se falassem teríam muitas histórias para contar!
O maior pertenceu a meu pai, que por sua vez
já tinha sido do seu avô, com quem aprendera
a primeira profissão: alfaiate, que exercera
desde muito novo em Marvão,
onde fez e engomou muitos fatos para a população.
Depois decidiu ser polícia, rumou até Tomar
e em Rio Maior,continuaria a fazer fardas,
já sem contar com o seu ferro aquecido a brasas!
O outro pertenceu à minha avó materna,
serviu para engomar a roupa da família,
sendo seis pessoas lá em casa!
JM

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Ser grande


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda
Brilha, porque alta vive.
Fernando Pessoa

Sinais

Deixar ficar algo em algum lugar, de vez em quando, é normal.
Ao fim de uma semana intensa e tensa pode ser apenas um alerta,
pode ser distração, cansaço ou necessidade de abstração!
Hoje estive um pouco aérea, tive vários sinais, que dariam para "levantar voo!"
De manhã, esquecia-me de comer; á hora de almoço, esqueci-me do chapéu de chuva (embora não chovesse, de tarde não voltei para o mesmo local); ao final do dia esqueci-me da mala e só dei pela sua falta ao subir para ao autocarro. Não tinha carteira, passe nem chave do serviço para voltar atrás!
E não tinha meios para prosseguir...
Valeu-me uma colega que ainda estava por perto.
Ás vezes parece que ando no ar
mas faltam-me as asas para voar!
JM

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Dar...Ter...Ser...

Se não devemos exigir a ninguém
mais do que lhe é possível dar
e não se deve dar à espera de receber,
será inquestionável que ninguém
pode dar o que não tem.
Também é certo que muita gente
quer ter o que não pode
e até finge viver
embora sobreviva,
outras vezes
é obrigada
quase a vegetar
e até da sua dignidade
tem de abdicar!
No limite,
deixam de ser quem são!

Deixão igualmente de sê-lo
as pessoas que faltam
com a sua palavra,
adiam planos e projectos
e ignoram o impacto
causado nos outros.
Não convencem
e certamente,
estão pouco convencidos
de alguma coisa!

Neste tempo de dúvidas
e incertezas,
a essência do Ser
estará na capacidade
de mantermos a lucidez
e muita fé para acreditar
que por detrás
do preto e do cinzento
está o branco!
JM

Como alguém disse:
"Meu Deus
Dai-me a serenidade
para aceitar as coisas
que não posso mudar,
a coragem para mudar
aquilo de que sou capaz
e a sabedoria para ver
a diferença"

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Frutos...Raízes

Descascando uma tangerina
lembro-me
do meu tempo de menina,
de duas enormes tangerineiras
plantadas à porta de casa,
cenário de muitas brincadeiras
com a minha irmã
e as minhas primas.
Para sempre guardo recordações
do tempo em que fazíamos casinhas
e bricávamos às vizinhas,
comíamos muitas nozes
e também romãs.
Aqui não há árvores de fruto por perto!
Existe a rua da milharada
a lembrar outros tempos
em que terá sido cultivado o milho!
Se também havia romeiras,
nogueiras e tangerineiras...
não resistiram à indústria do betão!
Foram substituídas por prédios,
e mais prédios, carros e multidões
vindas dos vários cantos
do país e do mundo...
em busca de melhores condições!!!
Quantos as terão encontrado?!
Quantos se integraram?!
E quantos continuarão à procura
das suas raízes?!
JM

sábado, 5 de janeiro de 2008

Reticências

Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer
qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo...
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem...
Sorrio ao menos: sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada...
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
(...)
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafísica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar...

Fernando Pessoa, in Poesias de Álvaro de Campos

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Insónia...vendaval

O vento forte e a muita chuva lá fora deixaram-me com insónia...
Passo a pente fino o dia de trabalho que incluíu uma agradável passagem pelas Azenhas do Mar e Praia das Maçãs.
Isto após uma necessária, embora não tão agradável, visita domiciliária em Fontanelas. Constatado o estado de desorganização geral de uma família desestruturada, que apesar de tudo ainda pode revelar alguma lucidez, ao tentar justificar o estado de autêntico caos exterior como consequência de um vendaval recente!!
Vendaval que também parece ter entrado em casa!!!!
Que bom seria, se como trabalhadores sociais, pudéssemos ser verdadeiros agentes de mudança! Mas na verdade, na maioria das situações, o querer fica muito áquem do poder!!
Acordei e chovia torrencialmente, embora longe de um cenário de vendaval ...
JM

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Luar em São Mamede


Casa Nova é um lugar situado numa das encostas da Serra de São Mamede; dista 25 Km da cidade de Portalegre e 12 Km da aldeia espanhola Codozera. Neste lugar residem apenas sete viúvas idosas que vêem todos os dias a mesma paisagem, ainda com marcas da negritude causada por um grande incêndio que deflagrou na zona há três anos; a contrastar com o enorme silêncio, a àgua da ribeira circula apressadamente e causa um ruído natural que anima os residentes e os visitantes de fins de semana e férias!
Um luar é belo em qualquer lugar!
Portalegre é triste e alegre!
Foi nesta cidade que estudei entre o 5º e o 11º ano, guardo das melhores recordações e também o contrário!Nela continua a viver grande parte da minha família e alguns amigos e ex-colegas de escola (alguns já partiram)...
Foi em Portalegre que passámos em família as últimas horas de 2007 e as primeiras de 2008. Como manda a tradição, à medida que fui comendo as doze passas, fui formulando mentalmente os desejos para o Novo Ano!
Já de madrugada, foi tempo de ler e identificar-me um pouco com José Régio.
Excerto da leitura: "Portalegre e os seus arredores já tem para mim - agora - uma sedução quase inquietante (...) permitindo-me as mais aventurosas viagens de espírito (...) pode viver aqui um pouco de eternidade (...) Porque a solidão de Portalegre não me faz esquecer de nada - antes me faz lembrar, talvez demasiado de tudo: passado, presente e futuro".
José Régio, poeta natural de Vila do Conde, fixou residência nesta cidade do alto alentejo e onde terá escrito a parte mais importante da sua obra, é actualmente a sua Casa-Museu, com todo o seu espólio, digna de ser visitada. Aqui fica a sugestão.
JM