quarta-feira, 20 de abril de 2011

Há anjos

Há anjos
que não compreendem o que dizemos
que não compreendem o próprio sentido
das palavras que, incessantemente, repetem
da esperança universal de que têm de nos convencer diariamente.

Há anjos que ressonam como foles
que andam cansados porque estão acordados há séculos
que precisam de ser transportados às costas
alimentados intravenosamente
protegidos da ferocidade do mundo.

Há anjos que lêem livros
anjos que escrevem poemas.

Há anjos que deixaram crescer a barba
que gostam de se deixar adormecer pelo comovente murmurar
das barbearias.

Há anjos que acabaram de nascer
que têm nome vulgares
que viajam de avião
que até gostam de aeroportos.

Há anjos secretamente apainoxonados por fadas,
por longos rios cheios de luzes
por súbitos glaciares.

Há anjos que são subcutâneos.

Há anjos que estão sempre com febre
que são ingénuos como enigmas.

Há anjos que vivem em arranha-céus,
que trabalham duramente em andaimes
de onde às vezes se precipitam de propósito.

E há anjos que são funâmbulos.

Há anjos que talvez nos surpreendam
que ás vezes nos saúdam, disfarçadamente, por entre a multidão
que abrem os olhos de noite.

Que, na sua voz interrompida, mutilada,
pedem calma.

Pedem muita calma.

António Ladeira,
à memória de Mário Cesariny

In "Resumo a poesia em 2010"

terça-feira, 12 de abril de 2011

"A sede dos olhos"...

"Em paisagens humanas importa-me distinguir a sede dos olhos que ainda procuram."
Patrícia Baltazar

Há cada vez mais olhares vazios, desinteressados, alheados, impotentes, desistentes ...

É gratificante quando alguns olhares, estimulados, ainda que molhados, ficam mais brilhantes e com vontade de lutar!

Registo num dia de encontro com alguém de olhos, inicialmente muito assustados, emanavam tranquilidade no final.

JM

segunda-feira, 4 de abril de 2011