quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Ano a terminar...

É bom estar de férias nesta altura do ano e reflectir com o poeta:
...A cada hora se muda não só a hora
Mas o que se crê nela, e a vida passa
Entre viver e ser.
...Parte da minha vida.
Em tudo quanto olhei fiquei em parte.
Com tudo quanto vi, se passa, passo,
Nem distingue a memória
Do que vi do que fui.
...No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
...Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele. Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.

Fernando Pessoa, in Odes de Ricardo Reis

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Família...Amor

Os preparativos para a noite
em família estão em marcha,
e entusiasmo não falta!
Faltará a presença de alguns
que no entanto estão
no coração!
Falar de Amor
é o lema de uma canção
de Olavo Bilac
que, já após a meia-noite
ouvimos e vimos na TV
e com quem há pouco
nos cruzamos aqui perto!
Coincidências...
A cantarolar
vamos aguardar
que a família possa chegar!
Poderemos confraternizar
neste tempo de Amar!
Tempo para lembrar também
quem não tem ninguém!
E sem esquecer,
perdoar outros,
que não agindo bem,
têm muito que aprender!
JM

sábado, 22 de dezembro de 2007

Paz

Paz, Amor, Liberdade,
Palavras cheias de significado,
no que está prestes a ser festejado:
o nascimento do "Deus-Menino
nas palhinhas deitado"!
Óbidos vestiu-se de branco,
a côr da Paz!
Vale a pena visitar,
intra muros,
esta bela Vila Natal.
A exposição de presépios,
a neve, as renas,
os diabretes, os duendes,
para ajudar!
E sem esquecer a boa ginjinha!
Enfim, não falta alegria
e muita animação
para partilhar
bons momentos em família,
por isso aqui fica a sugestão!
(até dia 6 de Janeiro de 2008)
Sinto-me em Paz ao fim do 1º dia de férias.
JM

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Anjos...

Eles querem voar
voar mais alto
Eles querem sonhar
sonhar ainda
Mas sobretudo crer e provar
Que a tarde que lhes resta
É linda

Têm as asas feridas, quebradas
Falta-lhes força para abraçar
A claridade das madrugadas
O dia pleno cheio de cor
A felicidade
E o amor

Têm os corpos presos à dor
Cárcere de angústia e sofrimento
Perdem o pulso, escorre o suor
Vai-se a esperança momento
A momento

Surgem os anjos das batatas brancas
Lutam com alma com destemor
Unem o saber e a devoção
E num esforço quase irreal
Juntam a técnica e o coração
É o triunfo do amor
Total!

Eles irão voar
voar mais alto
Eles irão sonhar
sonhar ainda
Porque a estrada
Que têm pela frente
É de repente
Linda!

Ficam os anjos das batatas brancas
Firmes rochedos prontos a amar
Movem montanhas, afastam medos
Colhem espinhos, guardam segredos
E a quem Deus disse:
"Ide meus filhos, ide curar!"

Ofélia Bomba, In Para Ti - Poemas, 2004

Citando autor desconhecido, deixo ainda para reflexão: " O que há de grande na Humanidade é a fraternidade na dor"... e pretende ser um apêlo para que sejamos mais fraternos para com os que sofrem.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Natal

Tu, que me lês, amigo, neste instante
- brevíssimo, fugaz, intemporal -
alheio, por inteiro, e bem distante
de haver dentro de nós, sempre, um Natal;

Que passas os teus olhos com desplante
no canto que aqui trago, universal;
Que ris de quem te afirma e te garante
que Cristo, neste mundo, é imortal;

Talvez, num amanhã, quando o releias,
a luz se te descerre nas ideias
e vejas o quão triste é ir sózinho.

Que entendas que Natal é cada dia,
se o Homem for um verso da Poesia
e um Cristo o for guiando no caminho.

João Coelho dos Santos, in Florilégio de Natal 2007

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Luz!

Preciso muito de luz!
Essencialmente da luz do sol!
Mas neste tempo
Outras luzes se acendem
E iluminam os caminhos
E os destinos
De muita gente!
Estrela cadente
Lembra aos meninos
E aos crescidos
História de embalar
E encantar!
Tenha fé
Seja ou não Cristão
Para acreditar
Que Jesus é nosso Irmão!
JM

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Refectir...

Aproveitando uma pausa à hora de almoço, numa estação de correios, enquanto aguardava pela minha vez, peguei num livro, que me convidou pelo título sugestivo "Voando como a águia - A inteligência espiritual como factor de mudança". O autor é Gretz. Li-o na diagonal e retirei esta mensagem de Neo Buscarle, que deixo para reflexão:
Os seres humanos são como anjos de uma só asa.
Só conseguem voar quando estão abraçados.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Madrugada

Após um grande dia de festa
que completou a 1ª década
de vida de uma criança,
é madrugada,
dorme agora em paz
uma noite descansada!
E talvez sonhe
com o futuro
que é já hoje!
Como foi ontem,
que seja feliz,
hoje e sempre!
Que nunca deixe
de partilhar
muita alegria de viver
e nunca se sinta só
no meio de muita gente!
JM

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Lágrima

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterelizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Gente a mais

O que fazemos ou deixamos de fazer por falta de vontade!
Hoje podia ter feito tanto que não fiz ...
simplesmente porque não me apeteceu.
Lisboa estava menos apelativa;
As ruas e o metro tinham gente a mais
e isso incomodou-me,
senti-me demasiado tocada
e totalmente invadida!
Dei mais valor
ao meu lugar sentada
no comboio para Sintra!
Permanecer na Capital
nesta altura de Natal
pareceu-me infernal!
JM

Não ouvir

Há os que não ouvem
e sofrem por isso
e há outros
que preferem não ouvir
porque lhes convém!
Não dão ouvidos
aos incomodados,
aos revoltados
e que mesmo cansados,
não param de falar;
procuram respostas,
que outros,
por as não terem,
querem fazer calar!
Não consentem
nem desmentem,
mas assustando
obrigam a silenciar!

Agora noutro registo
e a propósito de surdez absoluta,
relembre-se que Beethoven se encontrava totalmente surdo
quando compôs "Coral"- a 9ª Sinfonia, considerada a jóia da sua produção musical.

Fica assim implícita uma réstea de esperança relativamente aos "frutos" que possam provir dos "surdos a fingir"que reinam na actualidade...
JM

domingo, 9 de dezembro de 2007

Viajar

Viajar é correr mundo,
voar mais alto que os pássaros
ou pisar o chão da terra
ou as ondas do Luar Alto...
É ver bichos de muitas cores e
feitios, montanhas,
rios,
e ribeiros
e pessoas
e lugares.
Conhecer e descobrir,
inventar e duvidar
sabendo cada vez mais,
sem nunca pensar que basta
o mundo que se conhece.
E alargá-lo com amor
dentro de nós e dos outros.

Alves Redol

Tradição

Já cheira a pinheiro cá em casa, já fizémos a árvore de Natal!
Mas a tradição já não é o que era dizia-nos o senhor onde o comprámos, pois já poucas pessoas preferem o natural, a avaliar pelo nº dos que o procuram, considera que compram árvores artificiais aos chinenes, que as vendem a menor preço, estando implícitas questões de concorrência leal e às vezes desleal ao comércio nacional, que têm dado muito que falar.
Mas falar de tradição num contexto de globalização daria muito para especular!
Ainda por cima neste fim de semana que em Lisboa se encontra a decorrer a cimeira entre os líderes de África e da Europa! Discursos importantes sem dúvida que "pondo em comum" poderão ser um ponto de partida para ultrapassar muitas divergências culturais e políticas.
Mas nada pára porque de facto o Natal aproxima-se.
A asáfama das compras, a agitação das pessoas,
aparentemente, preenchidas,
mas no fundo,
quantas se sentirão vazias?!!
JM

Nesta procura em encontrar o que dar e na mira de receber, ainda que inconsciente,
recordo a propósito parte da letra de uma canção de Pedro Abrunhosa, em Viagens
"Tudo o que eu te dou tu me dás a mim
...Eu não sei
Que mais posso ser
um dia rei
Outro dia sem comer.
Por vezes forte,
Coragem de leão,
Ás vezes fraco,
Assim é o coração
(...)
Tudo o que te dou,
Tu me dás a mim.
Tudo o que eu sonhei,
Tu serás assim."

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Não ver

Por que será que nós temos
na frente, aos montes, aos molhos,
tantas coisas que não vemos
nem mesmo perto dos olhos?

António Aleixo

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Encontros

Encontros, reencontros, novos conhecimentos, recordo uma ída a Lisboa na semana passada, em que foi possível conciliar trabalho com outros afazeres pessoais, e destaco o encontro e reencontro com amigos especiais e ex-colegas de trabalho e conhecimento de novas pessoas. Cada vez estou mais convencida que é importante preservar esta faceta das nossas vidas, os amigos! Os verdadeiramente amigos acompanham-nos onde quer que estejamos, mas o contacto pessoal é muito gratificante. É bom conversar ao vivo, ouvirmos e sermos ouvidos, falar de coisas diferentes, quebrar a rotina, rir e chorar e chorar rindo! O tempo podia ter dado para mais, mas foi bom voltar a Alvalade, já tinha saudades também do local!
JM

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Vida

Mestremar comentando o poema anterior, fala em" geito", de facto a vida, a nossa vida somos nós e as circunstâncias. O que somos, o que temos e o que queremos nem sempre são coincidentes! Ás vezes parece que não há volta a dar-lhe! É preciso ter mais ou menos geito para nos adaptarmos e/ou sobrevivermos em condições que, muitas vezes, são mais adversas que favoráveis ao nosso bem estar e realização pessoal, familiar e profissional.
JM

Hoje um amigo enviou-me um e-mail com um pensamento de Charles Chaplin que pode ser conclusivo para muitos, que aproveito também para partilhar aqui, apenas a parte final, que subscrevo:
...Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida e viver com paixão,
perder com classe e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a Vida é Muito para ser insignificante!

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Poema ao doente

(...) A troco da emoção
Que sempre me provocas,
E pela realização
Do sonho mais ardente
Que tu, também, evocas.

Para ti foi meu estudo,
Nas grandes solidões
De noites sem dormir,
Que é outra forma de amar,
De amar e de servir.

(...) Contigo,
Invado o mundo dos segredos,
Corro a angústia de lés-a-lés,
Desejos de morte ou apenas medos
E tudo o que, no fundo,
Exactamente és.

Por ti desbravo a timidez,
Amparo a euforia,
Traço com nitidez,
Projectos de harmonia.

Contigo,
Vagueio na confusão
Viajo no delírio
E subo os degraus
Do calvário e do martírio.
Por isso,
A nossa relação,
Feita de confiança,
Não é só busca possível,
Uma troca fria
De dúvida-saber,
Uma dor-esperança,
Mas um elo incrível
Que só tu e eu
Podemos entender!

Ofélia Bomba, médica psiquiatra
In "Poemas do Rato Morto"

Considero que o conteúdo deste poema é um desafio à nossa sanidade mental e um alerta para que a preservemos. Publico-o nesta Quadra de Natal que se avizinha pensando em todos os doentes.

Trabalho...

Trabalhamos para viver ou vivemos para trabalhar?!
Trabalhamos por prazer ou nem por isso?!
Produzimos mais e melhor sob pressão?!
Fazemos coisas com sentido ou sem sentido nenhum?!
Somos especialistas e polivalentes ou não passamos de generalistas?!
"Somos salta pocinhas"; "Somos bolas de ping pong";"Apagamos fogos";
-Quem não ouviu já estas expressões e/ou não se sentiu um pouco de tudo isto?!
Ajudamos alguém ou precisamos de ajuda?!
Interrogações e exclamações são alertas à nossa consciência.
Hoje ao fim de um dia "preenchido de afazeres, incluindo urgências" li num jornal diário uma opinião que achei curiosa, me fez reflectir e passo a transcrever, cujo autor é um "pacato e talentoso alentejano" - o músico e cantor Vitorino que diz o seguinte:
Nunca seria um trabalhador compulsivo como vocês são obrigados a ser .
Trabalhar no mundo artístico permite dizer estas coisas, ser artista é seguramente ser muito mais livre que um qualquer ser humano!
Como acredito na máxima que diz que "nunca é tarde para aprender", vou esperar por novos desafios e quem sabe um dia possamos todos ser menos "compulsivos" e mais livres !!!!!!!
JM

domingo, 2 de dezembro de 2007

Hoje

Contente de me dar como as gaivotas
bebo o outono e a tarde arrefecida.
Perfeito o céu, perfeito o mar, e este amor
por mais que digam é perfeito como a vida.

Tenho tristezas como toda a gente.
E como toda a gente quero alegria.
Mas hoje sou de um céu que tem gaivotas,
leve o diabo essa morte dia a dia.

Eugénio de Andrade

Fé...Espiritualidade

Ter fé, cada um tem a sua! Cada um tem o seu "Deus". Acreditar que a "vida não acaba apenas se transforma" é um lema complexo e prende-se com o conceito de espiritualidade, controverso e difícil de definir.
Em 2003 li "Parar - como parar quando temos de continuar" de David Kundtz, que me marcou profundamente e ainda há poucos dias acabei de o reler, ficando uma vez mais ciente da importância e necessidade que temos de parar no verdadeiro sentido da palavra. Parar, ainda que por segundos e ficar a sós connosco próprios nem que seja para respirar tranquilamente e libertar a tensão e o stress, que tantas vezes parecem quase sufocar-nos!
Em "Parar" o autor também aborda a questão da espiritualidade, considerando o parar como um processo espiritual e socorrendo-se da descrição do teólogo David Griffin e ideia do psicólogo James Hillman, define espiritualidade como os "conceitos e valores com que regemos as nossas vidas, tanto nos cumes como nos vales", ..."aquilo por que nos sacrificamos, o que colocamos em primeiro lugar, e que gostaríamos de abandonar por último. São as nossas respostas às questões importantes da vida, e são as verdades no nosso leito de morte...A nossa moralidade tem como base a nossa própria espiritualidade".
David Kundtz faz-nos reflectir sobre "Deus", chama a atenção para o facto de não poder ser limitado e a " Graça" não conhecer fronteiras. E para aqueles que têm olhos para ver, tudo é sagrado!
JM

sábado, 1 de dezembro de 2007

Imortal

Imortal é aquele que vive para além da sua morte porque não é esquecido.
Pavarotti será imortal, ouvi-lo, olhando o mar e o céu, é calmante, nenhum sentido lhe é indiferente!
Lembro entes queridos que já partiram,
mas continuam vivos na minha memória,
serão eternos.
JM