terça-feira, 20 de novembro de 2007

Gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outra vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

In Geografia (1967) Sophia de Mello Breyner Andresen

Que actual continua o conteúdo do poema passados todos estes anos!!!

Sem comentários: